Dia 16 de Fevereiro de 2018, 01h30 da manhã.
Acordei com muita vontade de fazer xixi, o que achei que me causou uma leve cólica. No entanto, quando voltei pra cama, a cólica ia e voltava, em um espaço de 5, 7 minutos mais ou menos. Não queria acordar meu marido sem a certeza de que estava iniciando o trabalho de parto, mas ele também levantou para ir ao banheiro. Eu disse a ele que achava que a Alice poderia nascer naquela sexta feira, pois nunca havia sentido nada parecido. Ele ficou alerta. Eu tentei me acalmar e dormir.
No dia anterior, quinta feira, tive uma consulta com o meu obstetra. Como já estava na 40a. semana, ele comentou que se passássemos de 41, teríamos que acompanhar mais de perto, fazendo um exame que se chama cardiotocografia a cada 2 dias. Esse exame somente é feito em maternidades.
Antes mesmo de engravidar, já sabia como gostaria que minha filha viesse ao mundo: de forma natural, no seu tempo, sem intervenções, a menos que fosse extremamente necessário. Descobri que o Dr. Rogério, que atende na cidade de São Carlos-SP, vizinha a minha cidade Araraquara-SP, atendia o meu plano de saúde e era especializado em parto humanizado. Em Araraquara, não temos nenhum médico recomendado para esta finalidade.
Desde que engravidei, comecei o acompanhamento pré natal com ele e meu parto seria na maternidade de São Carlos, a qual fomos visitar no mês de Jul/17, para conhecer a sala de parto humanizado.
Como o exame que eu deveria fazer era a cada 2 dias, tive um pouco de medo de fazê-lo em Araraquara-SP e já quererem me internar para uma cesárea por aqui. Naquela quinta feira, quando dei uma pausa no meu trabalho a tarde, conversei com a Alice. Expliquei para ela que estava com medo de uma intervenção desnecessária e que se ela estivesse pronta, poderia vir, pois eu também já me sentia pronta para o nosso grande momento. Acho que ela entendeu.
No entanto, naquela quinta feira, eu já não estava muito bem. Ao acordar, tomei café da manhã normalmente, mas não me sentia exatamente bem. Ao sair da consulta com o Dr., fomos almoçar no Burguer King e eu comentei com meu marido que não estava legal. Antes mesmo de almoçar, começou a me dar muito calor, uma leve tremedeira e a sensação de que o café da manhã tinha sido recente… Segui com o lanche e a mesma sensação que me acompanhou até o final do dia, fato que me fez não conseguir comer mais nada após o almoço. Achei que o mal estar passaria se me recolhesse e que acordaria melhor no dia seguinte.
Todos os dias dizia ao meu marido que não poderia ir dormir sem jantar pra não ficar sem energia caso acontecesse, mas naquele dia, não pensei exatamente nisso. Pensei que só queria descansar, depois uma tarde inteira de trabalho com mal estar. Mal sabia que era o meu corpo dando sinais de que algo aconteceria.
Na madrugada seguinte, além das cólicas, senti vontade de ir ao banheiro e ânsia de vômito. Já havia lido sobre o corpo se esvaziar para o trabalho de parto, então não tinha dúvidas de que estava acontecendo.
Entre uma cólica e outra, eu conseguia cochilar. Até que elas foram ficando mais intensas e eu tive que sentar na cama, deitar já era muito dolorido. Próximo às 06h meu marido mandou uma mensagem para a Cris, nossa doula. Eu já sentia dificuldade para andar e percebi que não conseguiria tomar café da manhã com ele. Tomei um pouco de suco de laranja.
Comecei a chorar! E não era de dor! Era um sentimento louco e ansioso – Deus, minha filha vai nascer! –
O Digo foi trabalhar, pois tinha que resolver um problema na empresa e logo voltaria. Fiquei sozinha por um tempo com a Alice, as contrações e processando o que estava acontecendo.
A doula chegou quase 08h. Pediu pra eu levantar da cama e ficar um pouco na banheira enquanto conversávamos. Desta forma ela analisaria se estaríamos próximo ao parto ou não.
Fiquei um bom tempo na banheira, mais de uma hora, acho. A partir de agora o tempo sumiu pra mim. Nada mais me preocupava. A Cris insistiu para que eu comesse algo. Meu marido que já havia voltado, prontamente fez um potinho com banana, aveia e canela, mas eu não conseguia comer.
Ela começou a cronometrar minhas contrações e começamos a conversar. Não tinha um ritmo exatamente, como se é esperado em trabalho de parto. E por um instante achamos que não seria pela manhã.
No entanto, conversa vai e vem, as contrações ficaram cada vez mais intensas e ritmadas. Salvo engano, a cada 3, 4 minutos. O que estava aparentemente tranquilo, mudou. A Cris chamou o Digo, pedindo pra que ele colocasse as coisas no carro e separasse uma roupa pra eu me vestir.
Chorei novamente! Sem conseguir explicar o por quê.
Fomos às pressas para o hospital. O caminho foi uma tortura para mim.. cada chacoalhada que o carro dava era uma dor imensa. Por várias vezes, pedi para o meu marido parar o carro e esperar a contração finalizar para que eu aguentasse seguir. Como o hospital é em outra cidade, tive que ter paciência. Não aguentava a mão da minha doula em cima da minha barriga.. comecei a ficar incomodada com tudo! Era como se eu fosse outra pessoa.
Enquanto olhava a pista passando por nós, começava a cair a ficha: aquele caminho que fizera tantas vezes para consultas, me levaria até minha filha naquele dia. Que mágico! Trocava olhares com o Digo pelo retrovisor, ele visivelmente preocupado comigo. Eu sentia muita dor em cada contração. Mas era uma dor com um propósito feliz: traria minha filha para perto de mim em instantes.
Chegamos ao hospital pela emergência. Enquanto meu marido preenchia a papelada, a Cris entrou comigo para que eu me acomodasse em uma sala de espera. Um médico que estava de plantão, me atendeu para fazer o exame de toque, pela primeira e última vez. Acredito que era em torno das 10h30 aqui.
Para o nosso espanto e do médico também, estava com 9 dedos de dilatação. Ele parabenizou a doula pela chegada ao hospital na hora certa e perguntou quando iniciamos o trabalho de parto. Achou muito rápido para a primeira gestação. Brinquei que a Yoga ajudou.
Imediatamente fomos para a sala de parto humanizado. Essa sala das fotos acima.
Eu estava com muita dor, sem posição para nada. Meu marido ainda não havia voltado da parte burocrática.
Sentei na bola suiça e não gostei.
Pedi para entrar na banheira que ainda estavam enchendo de água, pois em casa estava mais bem acomodada quando estava na banheira.
A Cris colocou um pouco de música, mas eu pedi para desligar o som. Absolutamente TUDO me incomodava. Lembro que tocou “Paciência”, música que eu AMO na voz do Pde. Fábio de Melo.. mas nem ela eu queria ouvir, preferia o silêncio para me concentrar.
Mesmo não estando cheia, entrei na banheira e pouco tempo depois começou o período expulsivo do trabalho de parto. A cada contração sentia uma vontade imensa de fazer força e gritar. Era o que eu fazia. O tampão saiu na banheira, entre as contrações.
Lembro que a Cris já havia me advertido que a gente vira meio que bicho na hora do parto. Para não hesitar em gritar, caso sentisse vontade.
Juro que mesmo se eu quisesse, não daria para hesitar. O grito saia involuntariamente com a dor e a força. Fiquei um bom tempo na banheira. Meu marido colocou a sunga e entrou comigo. Me apoiou. Mas eu estava exausta, sem energia e tremendo. As enfermeiras pediam pra eu mudar de posição pra ajudar a Alice se movimentar. Eu havia lido sobre isso também. Mas como estava muito cansada, qualquer mudança requeria muito de mim e era muito difícil.
Não estávamos evoluindo na banheira.. então fomos para o banquinho. Naquela posição, cócoras, fiquei melhor e ali comecei a sentir a Alice chegar.
Escutei as enfermeiras falando: pode chamar o médico, vai nascer!
O consultório dele é bem pertinho da maternidade.
Quando ele chegou, simplesmente disse: na próxima contração você vai segurar a respiração e fazer força com a boca fechada, Talita.
Quando comecei fazer desta forma, a Alice começou a descer.
Desejei que ele tivesse chegado uns 30 minutos antes.. estava esgotada e fazendo força de forma incorreta até aquele momento.. já estava exausta. Falei: acho que eu não consigo, gente!
Até que ele falou novamente e sério, como sempre: força, Talita. Na próxima contração, ela tem que nascer. Do jeito que está não pode ficar! Fecha a boca e empurra!
E me pedia força.
Os batimentos dela já haviam caído muito. Eu estava exausta até para abrir os olhos e as pernas para facilitar que ela nascesse. Mas quando ele falou, respirei fundo e fiz o que tinha que fazer. Minha filha precisava da minha força ali, naquela hora, sem demora. Lembro que em poucas contrações com as instruções do Dr., ela nasceu! Lindamente, às 12h34.
Muito cabeluda e com os olhos bem abertos nos observando, se acalmou quando ficou junto a mim. Eu me surpreendi com tudo: ela era muito comprida, como saiu de dentro de mim daquele tamanho todo? Quanto cabelo! Escuro, como havia sonhado.
O papai já estava lá, prontamente posicionado para pega-la e me entregou. Que sensação mais incrível, muito intensa e brilhante. Olhei para ela e só consegui dizer: Ai, meu amor! Ai minha filha, desculpe, a mamãe demorou!
Fiquei com ela nos braços até o cordão umbilical parar de pulsar, quando parou, o papai fez questão de corta-lo e a Alice foi para as mãos do pediatra. Estávamos todos na mesma sala e isso faz toda diferença. Em nenhum momento ela saiu de perto da gente.
Enquanto a Alice era avaliada, eu deitei na cama ao lado para o Dr. Rogério verificar como eu estava. Ele enrolou o cordão umbilical no dedo e pediu para eu fazer um pouco de força que minha placenta estava para sair. Rapidamente ela saiu.
Ele me avaliou e ouvi algo que me preocupava MUITO na gestação: você não teve laceração nenhuma. E ainda brincou: Olha, barriga negativa! Cadê sua barriga? Hahahahaha..
Que felicidade! Que sonho. Como tudo estava se realizando de forma tão perfeita? Gratidão era tudo o que eu pensava!
Eu tive um pouco de medo de levar pontos na região, mas estava confiante que os exercícios que fizera durante a gestação me ajudariam. Se foram eles, não sei! Mas felizmente não precisei levar ponto nenhum!
A Alice logo voltou para o meu colo e nós pedimos para não dar o banho no dia. O bebê nasce envolto pelo vernix, uma camada que ajuda na proteção da pele. O ideal é que o banho seja feito somente no dia seguinte.
Ela não quis mamar a princípio. Esperamos um pouquinho e tentamos novamente.
A Cris me ensinou e falou: você faz uma pinça com as mãos e encaixa na boca dela. Ajuda ela, pois ela ainda não sabe mamar.
E lá estava a Alice mamando toda linda no meu colo. Gratidão de novo, era tudo o que eu pensava! De novo, que sensação mais incrível era essa acontecendo? Uma seguida da outra. É uma emoção imensa amamentar.. nunca vou esquecer aquela boquinha perfeita de peixinho e aqueles olhos me olhando com tanta ternura. Ela era perfeita em tudo pra mim, além de linda e inteligente ❤
Tomei um banho e fomos para o outro quarto para acomodação.
A Alice depois de mamar, ficou um tempão quietinha dormindo no colo do papai. Era inacreditável aquele bebê tão bonzinho. Pensei comigo: como pode um recém nascido tão calmo? Eles não choram sem parar?
Parecendo combinado, meu obstetra, o pediatra e umas duas enfermeiras disseram ao entrar no quarto: os bebês de parto normal são assim mesmo, bem mais tranquilos. São diferentes de bebês que nascem de cesárea.
Gratidão pela escolha de traze-la da forma mais tranquila para todos nós.

Abençoado seja o nosso fruto, que cuidadosamente pedimos ao papai do céu.
Após o parto, fiquei ótima e como muitos disseram, nem parecia que tinha acabado de parir 🙂
Vocês lembram daquela exaustão toda antes do parto? Ela foi embora junto com o banho que tomei em seguida e após o almoço.
Me sentia extasiada, feliz, realizada, empoderada e completa. Me disseram pra dormir um pouco junto com ela a tarde, mas eu só conseguia admira-la, dar as boas vindas e processar tudo o que havíamos vivido. Dizia para ela o quanto ela era esperada e amada. “Bem vinda à nossa família novamente, filha!”
…
Minha bolsa não rompeu até o nascimento. A Alice nasceu dentro da bolsa ❤
Minha doula disse que, segundo as parteiras antigas, quem nasce na bolsa é muito especial e sortudo. É raro acontecer.
Filha, daqui alguns anos você estará lendo este relato de parto e eu gostaria de lhe dizer que ele foi o processo mais incrível da minha vida. Nascer naturalmente é um privilégio de poucos, e você está neste grupo. Hoje em dia, estamos cada vez mais distantes da nossa natureza. Terceirizamos tudo para a medicina e nos esquecemos de que SOMOS NATUREZA! E com você e o seu pai, vivemos isso da forma mais linda que poderíamos. Você é especial e privilegiada. E nós por termos você. Gostaria também que você soubesse que sem o apoio do seu pai, poderia ter acontecido, mas seria muito difícil. Desde o início ele acolheu o processo natural e nos apoiou.
E que apesar de toda dor que senti, faria tudo novamente. Insisto que “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Juntos fomos fortes e fizemos um lindo parto.
Gratidão imensa:
- Ao amado e dedicado pai da Alice, Rodrigo. Eterna gratidão pela cumplicidade! E obrigada por ter participado ativamente do parto, por recepcionar com tanto amor e cuidado o nosso anjinho. Certamente isso fará toda a diferença na vida dela. Ela não vai lembrar exatamente, mas ficará em seu “hardware” e determinará como ela conduzirá sua vida, para o resto da vida. A forma como a nossa pequena foi concebida e recebida foi muito mais do que especial. “A primeira impressão é a que fica.”
- Ao Dr. Rogério Gonçalves Lima, obstetra. O mais competente de todos!
- À Cristiane Raquieli, doula. Como é lindo ver você sentir o momento certo das coisas.
- Ao Dr. Valnei Freitas Andrade, pediatra.
- A toda equipe de enfermagem da maternidade. Todas nos atenderam maravilhosamente bem. Tiraram fotos e fizeram vídeos e foram incríveis em todas as instruções.
Gratidão a todos que nos enviaram suas energias positivas.